Deixemos de lado as divinizações e características. O procurador Ricardo Tadeu da Fonseca, 50 anos, possui autonomia, independência e, conseqüentemente, méritos próprios para ter sido nomeado desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, na última quinta-feira (16) em Curitiba.
Fonseca foi um dos responsáveis pela criação da Convenção Internacional sobre Direitos de Pessoas com Deficiência, que no último dia 09 (quinta-feira), comemorou um ano desde sua ratificação. A iniciativa é um marco importante na luta por uma sociedade inclusiva. A Convenção baseia-se nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, que reconhece a dignidade e o valor inerentes e os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana como o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.
A Agência Estado, seguida por tantos outros portais de informação, publicou o fato de um integrante do Ministério Público, com deficiência visual, ser o primeiro com esta deficiência a assumir esta posição no país: Procurador do PR é o primeiro juiz cego do Brasil. Desculpem-me, caros jornalistas, mas por que tanta comoção? Não divulgamos matérias e reportagens quando outros indivíduos públicos por estarem acima do peso, assumem cargos imponentes, ou mesmo, caracterizamos o Presidente da República como alguém extremamente singular por não ter o dedo mínimo.
Comumente utilizados, os termos como “santo”, “pessoa iluminada”, “super-herói”, não colaboram na construção de um ambiente inclusivo, uma vez que, ainda que superficialmente pareçam uma alternativa “sensível”, afastam as pessoas com deficiência das pessoas comuns. A desigualdade refletida através destes atos dificulta, por exemplo, a luta por direitos civis destes indivíduos.
Esta discriminação se manifesta, também, através da aplicação de adjetivos generalizantes, como é o caso, por exemplo, de publicar informações afirmando que um empregado com deficiência é mais leal e produtivo que outro não-deficiente. Em outros casos, utilizam-se da homogeneização, que compreende caracterizar um determinado tipo de deficiência ligando-a com a prática produtiva de atividades ou sentimentos. Por exemplo, escrever que crianças com síndrome de Down têm, necessariamente, um dom para as artes ou são muito afetuosas. Pois não são, já que interagem com o ambiente e desenvolvem a personalidade com qualquer individuo.
Resumidamente, é preciso ter cuidado ao divulgar tais informações. A mídia como formadora de opinião através de notícias como esta é capaz de alimentar, ainda mais, o preconceito e descriminação que cerca as pessoas com deficiência. Todo, e qualquer, indivíduo tem suas limitações, assim como também todos somos diferentes.
Filed under: Acessibilidade, Deficiência física, Deficiência intelectual, direito, Igualdade, Imprensa, Inclusão, Jornalismo, Justiça, Mídia, Notícia, Qualidade de Vida, Síndrome de Down | Tagged: Acessibilidade, barreiras, brasil, Cidadania, deficiência, Deficiência intelectual, deficiência sensorial, Deficiência Visual, deficiente físico, Direitos, Direitos Humanos, Diversidade, Igualdade, Inclusão, inclusão social, pessoas com deficiência, política, Políticas Públicas, portadores de deficiência, sociedade inclusiva | 5 Comments »