Modelo: Fabi / Foto: Roberto Ortega
Perguntava-me na última quinta-feira. Não adiantava recorrer aos dicionários, a definição era sempre a mesma: comunicar, transmitir; tornar conhecido, público. E o que é comunicar, transmitir uma notícia? Qual a prioridade dos assuntos? E o que é esse público? Tornar conhecido? Será que é tudo o que EU ACHO de interesse público? Mas, quem é esse publico que se interessa pelo que eu escrevo?
“Notícia é a expressão de um fato novo, que desperta interesse do público a que o jornal se destina”, dizem uns. Então eles que expliquem, o que é esse fato novo? É algo inusitado, jamais visto? Ou algo que aconteceu a pouquíssimos instantes? E como é decidido o que vai despertar o interesse do publico? Nesse sentindo, dizer que a Tati Quebra Barraco ameaça posar nua seria uma extraordinária noticia, por um dos motivos. No entanto, é impossível esse “incomum” e “inusitado” aparecerem a todo instante. Nem sempre o mundo se move por linhas absolutamente novas, novíssimas, nem tudo é “bomba”! “Bomba”! Como desejam os editores, os professores.
Definir a notícia como tudo aquilo que seja novo, diferente e polêmico é , no mínimo, perverter a informação. Tanto porque, quem determina o que é interessante é o próprio leitor, receptor da noticia. E dificilmente alguém pergunta se o que ele procura são noticias sensacionalistas e que de nada tem a acrescentar.
“Ah…mas certos assuntos são batidos, sem sal”, dizem outros. Sem sal? Sem sal me remete a algo sem novidade, sem tempero, pra não dizer sem graça. Mas, por que sem novidade? Por que sem graça? Uma reportagem não pode tratar do mesmo assunto que alguém tratou há dois dias atrás? Não se faz necessário este assunto? Ou não tem importância por não causar impacto, só instruir o leitor? Alguém pode se interessar! Talvez, a intenção da maioria é ver notícias positivas, ou mesmo continuidade de outras. Ainda assim, tem mesmo que ser só assunto novo?
O sensacionalismo que expõe e divulga determinada matéria ou acontecimento de forma espalhafatosa e exagerada e, que serve de modo “idiota” pra divertir, já fez sua vítima, uma sociedade que se cala diante de tanta “asneira” e manipulação. Não há muito que explicar, ou considerar neste caso, o fato se resume em oportunismo e falta de ética.
Falta de ética, de quem? Do jornalista ou do leitor? De um modo geral, o jornalista não ama ser criticado ou censurado. O leitor, por seu lado, espera aceitação automática da sua eventual razão de queixa – e verificar que tal não sucede não aumenta a sua estima por ele (jornalista). Assim, o jornalismo só faz sentido quando se relaciona com a sociedade.
Mas, então, o que é a noticia? Existe preocupação com o leitor? Notícia é aquilo que o editor no poder disser que é. Pareço radical, eu sei! Faço parte da minoria dos jornalistas (ou futuros jornalistas) que pensam haver um crescente divórcio entre jornalismo e sociedade. Algo que não transparece nos jornais ou nos inquéritos de opinião porque, como corporações que são, os jornalistas não se questionam muito a si próprios e, se o fazem, não o transferem muito para o conhecimento do leitor.
Não precisamos descer a tais ângulos de diferenças. Mas, se o jornalista, o professor, o editor e o dono do jornal, decidem por si só a utilidade e relevância de determinada notícia – ou assunto – a omissão e ausência dessa notícia e discussão é a exata noção da indiferença e falta de ética e profissionalismo que vivemos.
—
Bem lembrado!
Reinterpretação do texto: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=740
Urariano Mota
La Insignia. Brasil, agosto de 2005.
Filed under: Ética, Imprensa, Jornalismo, Leitura, Mídia, Notícia | 4 Comments »